A crise não é uma fatalidade. Tem causas, responsáveis, soluções. Resulta, em primeira instância, de um sistema económico e social iníquo, gerador de crises cíclicas que só a superação do próprio sistema pode erradicar e não as panaceias do momento, ou os devastadores conflitos bélicos que, ontem como hoje, à escala planetária ou de âmbito regional, servem por vezes de saída para as crises económicas e sociais.
No quadro internacional, é, porém, sabido que a responsabilidade pela actual situação decorre da actuação predadora, de procura do lucro a qualquer preço, que tem sido a pedra de toque da alta finança, da banca internacional, dos grandes grupos económicos (os sacrossantos «mercados», sem rosto nem escrutínio, cujo nervosismo faz tremer os países) e de todos os que, ao nível dos poderes executivos, continuam a representar os seus interesses: os directórios políticos nacionais e europeus. Mas, em todos os canais de televisão e em muita imprensa escrita, o pensamento dominante – por acção de comentadores de serviço e das chefias editoriais – visa persuadir a opinião pública de que são outras as causas da crise. Uma crise que apenas pode ser debelada por soluções drásticas cujas vítimas «inevitáveis» são as de sempre: trabalhadores da função pública e do sector privado, desempregados, reformados e pensionistas, além de uma juventude sem trabalho nem horizontes que, dia após dia, vê hipotecado o seu futuro. A todos estes são exigidos sacrifícios, que se anunciam prolongados, e de todos se espera a resignação face a uma crise de que não são responsáveis.
As políticas prosseguidas pelas forças partidárias que, há 34 anos, governam Portugal contribuíram activamente, sobretudo na última década, para que a crise tenha atingido no país as proporções que alcançou e cujos resultados estão à vista: um nível de desigualdade social sem precedentes, pobreza e desemprego galopantes, precariedade laboral, devastação ou atrofia do aparelho produtivo e assimetrias regionais de que o Porto é um gritante exemplo. Por outro lado, a privatização sem freio das principais e mais lucrativas empresas e serviços públicos, a juntar aos sucessivos ataques à Educação, à Saúde e à Segurança Social públicas, bem como aos salários e direitos de quem trabalha, põem em causa conquistas que resultaram de um longo e duro processo histórico de progresso civilizacional. Esta linha de acção política configura uma demissão crescente, por parte de um Estado que é sustentado pelos impostos dos portugueses, do que devem ser as suas obrigações sociais básicas.
As «contas» do famigerado Plano de Estabilidade e Crescimento que diariamente nos querem vender podem, e devem, ser feitas de outro modo e apontar num sentido inverso: penalizando privilégios e interesses de ricos e poderosos, combatendo a corrupção e a fuga ao fisco, apoiando a produção nacional, aproveitando os recursos do país e protegendo o emprego. Só assim há saída para a crise – e não dando rédea livre à exploração, à «flexibilização» das leis laborais, e sacrificando, ainda mais, quem trabalha e produz riqueza.
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