Liberdade de expressão: a Imprensa do Partido e o combate ideológico

intervenção de José pedro Rodrigues, da DORP do PCP
zepedroCamaradas,
O papel da Imprensa do Partido no reforço da nossa organização tem sido amplamente referida pelas resoluções dos sucessivos Congressos. Como já assumimos, a sua valorização corresponde a um elemento central da defesa da unidade ideológica do nosso Partido; da coesão de um pensamento revolucionário com a organização e intervenção do nosso colectivo partidário; um elemento central da resposta comunista num momento em que o fim da história, decretado pela ideologia dominante na sequência da derrota do socialismo a leste, contrasta com o paraíso na terra prometido de sobra pelos ideólogos do capitalismo e que afinal é a guerra, a miséria, a desigualdade reinantes, e mais exploração. E porquê esta importância da nossa imprensa num momento da História em que parece nunca ter havido tanta imprensa, tanta informação, tanta liberdade de expressão? Pois parece, mas não é. Talvez nunca se tenha dito tanto, mas certamente nunca se disse tão pouco nas linhas dos jornais e nos ecrãs de televisão. Porque dizem cada vez mais o mesmo e são cada vez menos a fazerem a informação que temos disponível e a ditar os critérios. Sabe-se tudo o que alguns querem que se saiba sobre as escutas do futebol ou do futebol da política dominante, mas o que se soube da grande manifestação dos trabalhadores da administração pública, dos seus objectivos e resultados? Ou até pegando no exemplo desta 9ª Assembleia: pelas cadeiras da comunicação social, que todo o dia permaneceram vazias, que saberão amanhã as populações do Porto do que pensam os comunistas sobre o seu distrito, e sobre as propostas que têm para os problemas da actualidade?
As lutas dos trabalhadores pelo seu emprego, às portas das empresas, ainda vão tendo algum espaço nos jornais e televisões. Mas com que tom e com que objectivos? Para justificar o fatalismo do desemprego e banalizar este drama terrível. “Os trabalhores protestam às portas da fábrica; não há emprego para todos; é a crise internacional”: esta é a estrutura do discurso dominante. Este é o retrato do desespero de muitos trabalhadores e da injustiça de um sistema cruel e desumano, mas em que se oculta sistemática e permanentemente as causas, a perspectiva e a dimensão histórica da responsabilidade da política de direita nestes despedimentos, na degradação social do distrito e do País, na destruição do nosso aparelho produtivo, o carácter explorador do capitalismo. E a liberdade de expressão ficou algures pelo caminho.
Mas nos dias que correm, parece haver várias vozes que se levantam pela liberdade de expressão. Parece uma ideia justa e inqustionável, aliás, nós comunistas defendemos e lutámos por essa liberdade constitucional. Mas contra isto, por exemplo, a redacção nunca foi um local tão hostil ao jornalista, que tem de escrever, cada vez mais, o que pensa o director do seu órgão, que por sua vez manda escrever o que pensa o dono do órgão. Mas então que liberdade de expressão defendem estes?
Não têm sido vistos a defender a liberdade de expressão de milhares e milhares de trabalhadores que são ameaçados e perseguidos no seu local de trabalho, quando exercem direitos e estimulam outros a exercê-los, quando cumprem com o seu activismo sindical. Esses sim que com o seu exemplo cumprem e fazem cumprir a Constituição da República Portuguesa mas que são atacados por quem se sente e está protegido pelos sucessivos governos e Presidentes que não cumprem o juramento que fizeram. Quanto a esta “liberdade de expressão”, silêncio absoluto. Porque esta “liberdade de expressão” significa despedimento, dispensa de funções, não renovação de contrato, pressões e ameaças.
Recentemente, a “liberdade de expressão” garantiu que todas as televisões e jornais do mundo “civilizado” mostrassem as cores da bandeira norte-americana nos ombros dos bombeiros que descobriam crianças no meio do desastre do Haiti. Garantindo porém que as cores da bandeira de Cuba nunca fossem mostradas, nem por trás do único hospital que funcionou logo a seguir ao terramoto, nem nas centenas de médicos cubanos que asseguravam no Haiti, antes do terramoto, voluntariamente, dezenas de milhar de partos e operações oftalmológicas. Mas isto não conta, para a “liberdade de expressão dominante”, só conta a “solidariedade” encomendada para a televisão em tempo de desgraça natural, permanecendo incontada a desgraça que é a vida de um povo massacrado por sucessivos golpes de Estado, também eles com as cores da bandeira norte-americana mais ou menos visíveis.
Para preservar esta “liberdade de expressão dominante” serão tomadas em breve novas e preocupantes medidas. Ouviremos falar muito NATO nos próximos tempos, das suas alterações estratégicas, muito ainda se dirá acerca disto. Mas o essencial pouco virá à tona. E o essencial é que a paz está mais ameaçada que nunca com esta nova investida dos senhores da guerra. A NATO sempre se apresentou como uma aliança militar defensiva contra o “espectro do comunismo”. E se assim foi e é, tendo desaparecido o “espectro do comunismo” a leste, porque se mantem e mundializa uma aliança destas? A resposta é evidente, para nós comunistas. O “espectro do comunismo” podia até ser a grande ameaça aos interesses económicos e militares do imperialismo, e era, como se prova, com este início sangrento de um novo século. Mas era também o factor determinante da contenção da barbárie. E está também provado que esta aliança do imperialismo transatlântico não era defensiva. A guerra alastra-se e a NATO está a alargar-se para agredir mais. Está a alargar-se para cercar as transformações revolucionárias. Está a alargar-se para garantir, pela força das armas, a imposição da “liberdade de expressão” das forças dominantes e com ela, aquela ideia de fim da história, que afinal, parece tardar.
Mas nós sabemos que a História não acaba assim. Como comunistas portuguesas, vai para 89 anos, gerações lutámos pela liberdade e pela democracia no nosso País.
Muitos camaradas não viveram para sentir na pele o dia de Abril. Mas o seu papel foi fundamental para que acontecesse Abril. Muitos camaradas poderão hoje pensar e sentir que o tempo de grandes transformações tardará, talvez sim, talvez não, mas a certeza todos temos que essas grandes transformações só se fazem com as pequenas e grandes lutas de todos os dias.
É dessas lutas pequenas e grandes, aqui e no mundo, e da resposta comunista, das grandes transformações do século XX e do nosso século, que a nossa imprensa –o Avante! e o Militante– fala como mais ninguém fala. E é por isso, que nós comunistas, mesmo quando achamos que as pessoas com quem falamos, pelo preconceito ou pelo medo, ouvem menos aquilo que dizemos, ou dizem que somos iguais aos outros, sabemos o que responder e sabemos onde responder.
Respondemos que não são só as palavras, ao contrário de outros, que nos caracterizam, mas que o nosso trabalho fala por nós, sempre que por ele temos de responder. Respondemos pelo nosso exemplo moral. E tão ou mais importante, dizêmo-lo nos locais de trabalho, dentro das empresas, onde a exploração e as maiores contradições acontecem. Quanto mais força dermos a esta organização no local de trabalho, à conversa, ao contacto, à circulação das nossas ideias, ao convencimento, mais força estamos a dar ao nosso Partido e à nossa luta e menos vulneráveis ficamos ao cerco montado ao PCP pelos donos da grande comunicação social. Esta é a força que mais ninguém tem, em momentos que mais ninguém ocupa.
E quanto mais capacidade tivermos de contactar com as populações fora dos períodos eleitorais, menos preconceitos terão e menos vezes dirão que somos iguais aos outros.
E é por isso que num momento de crise agravada como o que atravessamos, temos as condições e a credibilidade para darmos uma palavra daquele tipo de esperança que mais ninguém dará; com a luta determinada podemos construir uma vida melhor, podemos construir um outro rumo para o nosso distrito e o País; podemos construir um futuro de progresso de justiça social. É dessa esperança e da verdade dessa luta que falam o nosso Avante e o nosso Militante.
 
E é por isso que enquanto os “donos do pensamento dominante” vão contando mais um dia deste fim da história que afinal parece não acabar, nós comunistas, contamos todos os dias, na luta incessante pelo aprofundamento da democracia, que falta menos um dia para o socialismo.      

Viva o PCP.
Viva o Comunismo.