A Caverna

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Ana Cristina Macedo

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Sem o saber – ou talvez sabendo – Saramago tinha escrito todos os livros para mim.

Não pertenço à geração do Memorial do Convento – só por acaso. Pertenço à geração de A Jangada de Pedra. Era o ano de 1986. Tinha dezasseis anos quando outro jovem de dezasseis anos me ofereceu este romance e me destinou o encontro com o Escritor, enquanto euforicamente cantarolávamos a música dos GNR, acreditávamos na entrada de Portugal na CEE e desejávamos, tal como José Saramago, Joana Carda, Maria Guavaira, Joaquim Sassa, José Anaiço e Constante uma Europa finalmente como ética. Também para nós nos bastava a consciência de que o mundo estava a mudar e de que devíamos procurar em nós as pessoas novas em que nos iríamos transformar.

Afinal, o mundo está cheio de coincidências, e se uma certa coisa não coincide com outra que lhe esteja próxima, não neguemos por isso as coincidências, só quer dizer que a coisa que coincide não está à vista.

No final, a cada leitura de José Saramago vamos marcando o itinerário daquela jangada – sempre certos de que as utopias não nos levarão ao caminho da perfeição, pois não é aí que queremos chegar. O destino e função da jangada é outro: a res verdadeiramente publica como garante da felicidade.

Sursum corda!